
“A cartada da nostalgia”
Não é a primeira vez que se utilizam sucessos do passado para conquistar clientes no presente. Ainda assim, este novo Renault 5 E-Tech Elétrico ganha acesso direto para o “best-of” de ressurgimentos de modelos automóveis de outrora. A Renault sabe que a parte emocional pesa muito na altura da decisão de um novo automóvel e que, para as marcas mais tradicionais, a história e o seu legado são elementos de maior valor para o futuro.
Para além de incutir elevadas doses de desejo, o Renault 5 E-Tech Elétrico é ainda mais do que uma “cara bonita”, é uma junção de elementos técnicos que o tornam também numa escolha lógica para quem procura um automóvel para as viagens diárias. Teste à versão mais equipada iconic cinq, com a bateria de 52kWh.
Exterior
Claramente inspirado nas duas gerações do Renault 5, o modelo consegue assim três importantes conquistas: adotar as linhas de um bom exemplo de design de produto que foi o modelo lançado em 1974; conseguir oferecer uma proposta compacta – o R5 é mais pequeno que um Clio em 131mm; ou ainda conseguir ir buscar as memórias de várias gerações de condutores, que vão dos anos 70 aos anos 90, sejam aqueles que iam no lugar do condutor ou que ocupavam, com uma idade mais tenra, os lugares traseiros.
E quem vos escreve não esteve, obviamente, dentro de portas para saber. Mas aposta quase “todas as fichas” em como este foi daqueles projetos que ficará na mente de quem participou nele. É refrescante usar a “carta da criatividade” e, acima de tudo, essa criatividade ser aprovada para um modelo de produção.
Com um desenho neo-futurista, adota vários elementos do “Super 5”, com proporções bem conseguidas e semelhantes a essa geração do “cinco”. Mas existem vários pontos de detalhe, mais contemporâneos, como é o caso dos grupos óticos ou mesmo dos elementos inferiores, usados para a iluminação diurna ou como indicadores de mudança de direção. Este gráfico será encontrado também no interior.
Atrás, o pilar C é familiar, assim como os farolins traseiros, estilizados e incorporados, quase de forma conceptual, nesse espaço. A sua largura dá também ares do “cinco” mais radical de todos, o Turbo, de motor central. No capot há ainda uma herança do mais original dos R5, a entrada de ar do capot que aqui assume, nos novos tempos, um indicador de nível de carga com um “5” que nos indica a percentagem.
A jogada da Renault foi ainda mais longe, já que mesmo quem não conheça um dos cinco originais, não vai ficar indiferente a este novo gaulês que tem muito orgulho nisso. Para o personalizar, existem 5 cores, que podem ter uma cor de contraste no tejadilho.
Interior
É “retro” também por dentro. E não poderia ser de outra forma. Foi com algum alívio que senti isso, porque se nota uma vez mais que foi tudo feito com atenção ao detalhe, mesmo num modelo que é claramente para as massas, tal como os originais que lhe deram o nome, as formas e a inspiração global.
O painel de instrumentos assume também uma imagem familiar, mas aqui composto por ecrãs com boa definição ao invés de ponteiros como antigamente, onde ao centro está presente um sistema multimédia completo e moderno, que conta agora com a ajuda do “Renô”, o assistente que quer estar sempre presente para melhorar o nosso bem-estar a bordo, que conta ainda com comandos físicos que facilitam a ergonomia. No painel de instrumentos, em frente ao passageiro, contamos com o mesmo formato do 5 original, assim como o nome do modelo.
Os bancos, com bom apoio, assumem também ponto de destaque na apresentação interior, claramente inspirados no Renault 5 Turbo, com esta unidade do nível iconic cinq a contar com um revestimento amarelo graças a uma mistura de materiais 100% reciclados. Na dianteira, o espaço é suficiente e a posição de condução é correta, com o comando da transmissão a estar presente atrás do volante, como é normal nos modelos 100% elétricos da marca francesa, o que coloca mais espaço livre na consola central.
Já atrás, as suas dimensões compactas não permitem milagres. Portanto se o espaço atrás é algo essencial, o Renault 5 pode desapontar. No entanto, para crianças ou cadeiras de bebé, não existe problema. Assim, se for o caso, pode continuar a seguir o coração. Quanto à bagageira, conta com 277l de capacidade, ou seja, é mais pequena do que a apresentada pelo ZOE, o antigo 100% elétrico que a Renault apresentava neste segmento, não estando nos lugares cimeiros.
O espaço não é, portanto, uma das suas mais-valias. Contudo o equipamento é vasto, não faltando nada de essencial no interior deste Renault 5 do século XXI.
Condução
Nesta sua “nova vida”, o Renault 5 encontrou uma nova realidade: é elétrico. Sim, apenas e só elétrico e não há planos para que exista outra maneira de ser.
A sua plataforma é nativa, ou seja, própria para um modelo deste tipo. O seu piso é plano e permite uma distância entre eixos maior, assim como permite que as rodas estejam bem nos cantos da carroçaria. O que melhora a estética, mas sobretudo a sua dinâmica.
Para o animar, a Renault oferece – por enquanto – duas versões. Uma com 90kW (120cv) e bateria de 40kWh de capacidade e esta, mais potente, com 110kW (150cv) e uma bateria de 52kWh. Isso significa mais performance (-1s para cumprir os 0-100km/h) e mais autonomia (311 vs 411km anunciados).
Primeiro ponto positivo. Qualquer que seja a escolha, o Renault 5 não é pesado (para uma realidade de 100% elétrico) pesando, nesta unidade em teste com a maior bateria, 1525kg.
O modelo sente-se por isso “leve” e ágil, com uma direção que permite ler a estrada e informar o que se passa debaixo de nós. A sua resposta é imediata, como se espera num modelo elétrico, sem ser em demasia, estando bem alinhada com o binómio de “diversão e utilidade”. Isso, em conjunto com um centro de gravidade baixo (graças ao peso das baterias estar no piso) e a uma suspensão Multilink no eixo traseiro, permite que o Renault 5 E-Tech Elétrico seja divertido de conduzir.
Ainda assim, a diversão não impacta o conforto, absorvendo bem as irregularidades e mostrando-se “crescido” nesse capítulo, mesmo quando saímos do seu território que julgaríamos ser o preferido: a cidade. Os discos de travão às quatro rodas são outro dos pontos-chave nas ligações ao solo, num modelo que se revelou igualmente bem insonorizado e sólido.
Em termos de modos de condução existem 4: Eco, Comfort, Sport e Perso, que “mexem” no peso da direção ou na resposta do acelerador, assim como limitam a velocidade máxima. Existe dois modos de regeneração, enquanto um condutor que venha do “mundo a combustão” apenas precisa de se habituar ao pedal do travão, que tem sempre um curso algo distinto, normal deste tipo de propostas.
No que diz respeito ao carregamento, pode ser feito nesta versão de maior capacidade até 100kW num posto de carregamento rápido (no de 40kW vai até aos 80kW de potência), o carregamento em corrente alternada atinge 11kW, num modelo que oferece de série a bomba de calor. O Renault 5 conta igualmente com V2L, para um carregamento bidirecional.
Tendo em conta os nossos consumos, que num percurso misto ficaram nos 16,3kWh/100km, significaria que o Renault 5 E-Tech Elétrico conseguiria atingir 314km com uma carga completa. Em cidade conseguimos reduzir o valor para os 14,3kWh/100km.
Conclusão
O Renault 5 não é a primeira aposta retro EV. Existe um britânico e outro italiano que já o fizeram antes. Mas este Francês parece ter acertado na “mouche”, já que o conseguiu fazer de forma estética, juntando o conteúdo certo, um comportamento divertido e uma maior componente prática, graças às suas cinco portas.
Os preços começam nos 27.500€ para o R5 de bateria mais pequena, com esta testada a pedir em troca 33.000€. A unidade em ensaio custava 37.500€, já que contava com tudo o que é possível ter neste novo 5.
Portanto, para primeiro modelo retro, a Renault já conseguiu um Game, vamos ver se com o Renault 4 consegue o Set e se com o Twingo assegura o Match…