
“A meio do caminho”
O Ford Ranger Raptor é uma das propostas mais emocionais, mas também mais contraditórias do mercado automóvel atual. Uma pick-up de dimensões generosas, onde o trabalho está em segundo plano e a diversão assume o protagonismo. Depois de um primeiro teste com a versão V6 gasolina que nos deixou boas lembranças, voltámos a estar ao volante da “Raptor” para a testar na sua versão Diesel.
Será que esta variante, cerca de 11.000€ mais acessível, nos oferece também mais lógica?
Nesta segunda geração da Ford Ranger Raptor, a marca americana dotou o modelo com estes “dois sabores”, o que lhe permite chegar a mais clientes. Em termos estéticos, esta versão Diesel pouco difere da versão V6 alimentada a gasolina. O seu look desportivo continua presente, assim como as suas dimensões generosas. Para as distinguir, basta ver se a Ranger Raptor tem, ou não, as generosas ponteiras de escape cromadas. Se não as tiver, estamos perante uma Raptor Diesel.
No entanto, esta unidade contava com uma cor exterior mais original, uma das 7 cores que podem ser escolhidas para revestir esta proposta que pode contar, como opção, com os autocolantes que a tornam ainda mais chamativa.
No interior, também não encontramos diferenças, num habitáculo que conta com uma atmosfera desportiva, onde se destacam os bancos com um generoso apoio e elementos de contraste em laranja, seja nos pespontos, no próprio volante com a inscrição “Raptor” ou no revestimento dos próprios assentos. Cá dentro contamos também com um melhoramento no que diz respeito à tecnologia a bordo, face à anterior geração, com destaque para o generoso ecrã de 12,4’’ em posição vertical, assim como um generoso espaço para quatro adultos.
No que diz respeito à carga, o Ranger Raptor oferece um volume de 1233 litros, que permite ser fechado remotamente através da chave. Para além disso, existem tomadas convencionais ou de 12v, bem como uma iluminação para essa área de carga, para que a parte útil de uma pick-up não seja esquecida. No entanto, a sua carga máxima é de 650 quilos… ossos do ofício por ser uma proposta tão divertida.
Ao Volante
Desta vez não contamos com o rugido gutural e mais nobre da versão V6 a gasolina, mas sim com os préstimos do 2.0 EcoBlue de 210cv que, a bem da verdade, chegam para animar esta proposta. Não há dúvida qual nos diverte mais, nem qual mexe mais com os nossos sentidos, mas este Diesel joga a cartada da lógica para cima da mesa.
Enquanto demora mais 2,6s a atingir os 0-100km/h, a ficha técnica informa também que o consumo deste Diesel é 3,2l inferior em cada cem quilómetros percorridos. E embora a sua potência seja inferior em 87cv, o Diesel oferece mais binário (500Nm). A transmissão automática é a mesma, com 10 relações, para que este Ford esteja sempre no regime ideal.
Mas nem tudo são rosas. Para além do motor, a suspensão perdeu alguns dos seus atributos. Comparativamente com a versão V6 gasolina, este 2.0 EcoBlue não conta com a suspensão Fox Live Valve, mas sim com os Fox Position Sensitive. Isto quer dizer que não usa um sistema de suspensão tão tradicional quanto as versões convencionais do Ford Ranger, mas também não está no auge como na sua versão a gasolina. Basicamente é o mesmo conjunto utilizado pela anterior geração que tanto gostámos. Acreditem, continua a ser bastante competente.
E isso é bem visível quando aumentamos o andamento fora de estada, com o Ford Ranger Raptor Diesel a absorver muito bem as irregularidades e conseguir divertir o condutor. Mas, ainda no capítulo das diferenças, esta versão não conta igualmente com o sistema anti-lag do V6, nem o launch-control, assim como a capacidade de bloquear o diferencial dianteiro. Sentiríamos falta disso na vida real?
Na verdade, achamos que não. A versão Diesel é mais lógica para quem quer uma pick-up lúdica, mas que não foge totalmente do trabalho. É um melhor balanço e mais lógico, sobretudo no consumo de combustível. Não é que esta unidade fosse um exemplo nesse campo – o teste terminou com um consumo de 11,9l/100km em mais de 450km – mas é bastante inferior (e sem esforço) face à versão V6 Gasolina de 292cv, que não tinha quaisquer problemas em escalar para lá dos 16 a 20l/100km…
E é essa talvez a maior razão porque a versão Diesel do Ford Ranger Raptor consiga ser a escolha certa…ou, pelo menos, mais racional. É verdade que a sua sonoridade ou o seu andamento não são tão viciantes, bem como não conta com todos os “truques” e a forma impávida com que anda rápido fora de estrada quanto a versão a gasolina. Mas este Diesel continua a ser bem competente, sendo, sobretudo, bem mais poupado, seja na sua aquisição que é 11.000€ mais baixa, seja num consumo que é entre 6 a 8 litros inferior por cada centena de quilómetros.
No entanto se isso para si não é problema, siga o coração (para o V6) e divirta-se um pouco por mim. Se procura um equilíbrio a “meio caminho”, esta laranjinha que estão a ver nas imagens é a solução ideal.