
“O tal Jinba-Ittai global…”
Ligação entre o Homem e a sua máquina, algo que todos nós ouvimos falar.
Mas, o que realmente querem dizer com isso?
A resposta é: muito mais do que se imagina.
Então, mas porque estou a escrever isto? Por duas razões, a primeira porque para quem não sabe, comprei um Mazda MX-5 no final do verão. A segunda porque na semana do meu aniversário, a Mazda Portugal, de forma muito simpática, resolveu emprestar-me de novo o seu ‘antigo’ MX-5 NA, a primeira geração do automóvel que eu comprei. Ou seja 1995 VS 2018, a cheirar a novo.
Pois bem, eu lembro-me de como foi conduzir o NA pela primeira vez (podem ler aqui), e na altura, vou ser sincero, não lhe achei muita piada. Era “velho”, cheio de barulhos, com comandos pesados e muito (muito) quente. Era Agosto, estavam sempre trinta e muitos graus e o ar condicionado era uma verdadeira miragem…
Agora, tudo isso mudou. Atenção! Não o prefiro face ao meu novo ND, mas começo a entender muitas das suas manhas, manias e defeitos, que afinal não passam de características, que em conjunto com a sua idade lhe dão uma “aura de prestígio”.
O que me fez ainda mais querer escrever sobre isto, foi que quando vinha na ponte, para minha casa, o odómetro marcou a impressionante numeração de 123456km. Sim, isso mesmo, de “um a seis”, no conta-quilómetros. O que me fez pensar, mais uma vez, que “um automóvel não é apenas um objeto, ou um meio de transporte.” Meti-me a pensar nas histórias, nas vivências, nas gargalhadas e choros que foram dados dentro daquele pequeno habitáculo, e muitos outros em redor do mundo.
Sim, acredito na ligação entre Homem-máquina. E não apenas na condução.
E acho que tudo isso começa logo no momento da escolha.
Olhem o meu caso: o meu MX-5 é o primeiro carro que comprei novo, é um automóvel de preço médio, mas que se compararmos com outras propostas, digamos, mais “normais”, é caro.
É um capricho gastar perto de 30 mil euros, num automóvel de dois lugares? Sim, é.
Podia ter optado por um segmento C, ou um “Crossover da moda”, sim.
Mas estaria a falar dele agora?
A escolha é, por isso, o primeiro ponto e é preciso coragem para escolher um roadster que, ainda para mais no meu caso, é o meu único carro. E com essa escolha vem o compromisso de o tratar bem. Porque ninguém gosta de um descapotável, assim como de um coupé, sujo ou mal lavado e tratado.
Não fica bem, é a espécie de um código.
Aí, começa a escolha dos produtos, os cuidados, para um “outro filho” que merece a nossa atenção. E é também aqui que se sente uma vez mais essa “ligação”. Que eu saiba vocês não olham para a vossa torradeira depois de a usarem, pois não? Nem colocam cera no vosso frigorífico todos os meses…
As viagens começam a ser escritas em cada quilómetro, em que tudo é especial num automóvel. É nele que muitos de vocês conhecem a vossa futura mulher, que conquistam vitórias, assim como conhecem o sabor amargo das derrotas.
Passamos muito da nossa vida num automóvel, para não gostarmos dele.
E eu penso: desde 1995, já passaram mais de 8500 dias.
De quantas histórias, quantos sustos e quantos sorrisos já foi este MX-5 “personagem secundária”?
Eu abordei-o de forma diferente e agora, conduzindo-o de novo, reparo que os automóveis antigos são uma espécie de desporto. Uma espécie de golfe para aquelas pessoas que querem praticar desporto, mas que já não estão para “explosões de adrenalina”, é uma espécie de “reforma automobilística”.
Com este ensaio entendi e fiquei tranquilo, já que afinal também gosto de automóveis clássicos, e que não os abomino. Apenas tenho de ter, no meu dia-a-dia, um que verdadeiramente goste.
Gostei da pureza, da inexistência de ajudas, da direção que nos informa em curvas rápidas, mas que nos obriga a “comer um bife” nas manobras. Os barulhos deixaram de ser irritantes, e passaram a ser mais um traço de “personalidade” e a ser parte da “vida” que um automóvel tem. Gostei do motor, que pede para ser explorado até ao fim, e até dos “abrandadores” que nos obrigam a pensar duas vezes quando devemos carregar no pedal do meio…
Basicamente entendi que a relação com o “Homem-Máquina” tem de ser como a maioria das relações, onde há uma negociação dos defeitos e qualidades. Um “carro velho” merece o nosso maior carinho, porque ele, não foi apenas um objecto. Foi uma parte importante da nossa vida…