
“Direto à emoção”
A KIA usa o slogan “Power to Surprise” já há alguns anos. E se de início não entendíamos muito bem porquê, a não ser pela sua grande oferta de equipamento por um preço mais baixo, foi desde a segunda metade dos anos 2000 que as coisas começaram a clarificar-se. Foi na “era pós-cee’d” que se começou a notar que o gigante Coreano estava a acordar, com produtos de maior qualidade.
Hoje, o “Power to Surprise” atingiu-me com toda a sua força, e deixou-me deveras impressionado.
Stinger. Nome inspirado num míssil terra-ar, dos mais eficazes e mais utilizados pelas forças militares em todo o mundo, é usado para abater grandes alvos. Esse é também o nome do novo topo de gama da marca. Será que está pronto para “atingir”, e talvez “abater”, os mais importantes alvos do segmento dos Grande Turismo de segmento D?
Pelo menos ingredientes não lhe faltam…
Este foi mesmo o nosso primeiro contacto com o KIA Stinger, portanto, só o conhecíamos de uma forma mais superficial, e só daí, é visto de forma imponente, não escondendo uma linha conceptual e de coupé.
A sua longa frente, com a tiger noose a assumir um grande destaque, faz um bom contraste com todos os seus cromados anonizados face à pintura mais escura, de nome interessante: Pantera Grey. Esta dianteira reserva-nos ainda umas amplas entradas de ar e outros toques de desportividade, que podem ser vistos noutros pontos da carroçaria, como é o caso da saída de arrefecimento dos travões atrás das rodas dianteiras, o spoiler traseiro ou mesmo a dupla saída de escape, colocada no difusor traseiro.
A sua silhueta é marcante e bastante fluida, sem pudor de esconder os seus 4,83m de comprimento, bem como a sua largura, que medida com a fita métrica, “é de apenas” 1,87m, parecendo mais larga do que realmente é graças às suas vias com cavas bem pronunciadas. Estas dimensões são bastante idênticas às do Optima, o outro modelo de segmento D da marca, mas este mais emocionante Stinger revela-se completamente diferente, fator que veremos mais à frente.
A traseira foi outra área em que a marca primou pelo bom gosto, e onde se destacam obviamente os grupos óticos, que tal como na frente contam com tecnologia LED, mas que se unem e protagonizam ainda alguma da parte lateral deste coupé. As jantes de 18’’ preenchem bem os arcos e dão uma sensação de “colado ao chão”, tão agradável de vislumbrar.
Mas abrindo a porta, notamos de imediato o “ataque” ao topo, com materiais de muito bom toque, como é o caso do teto e dos pilares forrados a veludo, ou das superfícies em pele, que para além de revestirem os muito confortáveis e ergonómicos bancos aquecidos e arrefecidos, com ajuste elétrico, encontram ainda lugar em mais pontos deste interior. As misturas de materiais (alumínio e pele) estão bem conseguidas, com a posição de condução a ser facilmente encontrada também graças ao ajuste elétrico da coluna de direção. Perfeitamente alinhados com o volante, é notório o cuidado na construção e na robustez empregue. Os detalhes como os altifalantes do sistema de som premium harman/kardon dão um ainda maior toque de modernidade, a um interior que está praticamente isento de falhas, não fosse um ou outro toque plástico, mas muito bem dissimulado, tudo sem perder o sentido prático, já que existem muitos e variados espaços de arrumação.
O painel de instrumentos a cores é completo e de fácil leitura, sendo ainda complementado pelo head-up display, que nos informa da velocidade a que circulamos, se temos algum carro no nosso ângulo morto, da distância do veículo que circula à nossa frente graças ao cruise-control adaptativo, ou ainda se nos está a auxiliar a direção com o sistema de ajuda à manutenção na faixa de rodagem.
Portanto, temos um interior bastante agradável, com uma boa posição de condução e muito bem equipado. Os lugares traseiros são três, embora sejam aconselhados a apenas dois ocupantes, já que o túnel central é elevado, ao mesmo tempo que a sua altura, como se podia calcular, não é muita para a cabeça, graças ao exterior desenhado por Peter Scheyer. Ainda assim, o espaço para as pernas é aceitável, com o beneficio de contar com saídas de ventilação próprias para esses lugares posteriores. A “quinta porta” dá-nos acesso a uma bagageira com 407L de capacidade.
Até agora, tudo agrada, vamos ver se continuamos a ser surpreendidos.
Um toque no botão e acordamos o 2.2 CRDi de 200cv, montado longitudinalmente na dianteira, passando a sua potência para as rodas posteriores, através de uma caixa automática de 8 velocidades. Ou seja, temos aqui uma receita que promete, já que tudo está no sitio certo. Sim, existem outras variantes, ainda mais apetecíveis, como é o caso do 2.0 Turbo a gasolina com 255cv e ou o GT, com 370cv!
Mas por agora, calhou-nos o diesel, portanto, continuemos…
O som não penetra demasiado para o interior, mostrando que os cuidados com a insonorização não foram deixados de parte. Um toque no “joystick” da caixa de velocidades, o D é engrenado e lá vamos nós enfrentar uns quilómetros de cidade. É notório desde os primeiros quilómetros que o pisar é superior, com uma suspensão que tolera bem os maus pisos, assim como comunica muito bem com o condutor, igualmente graças a uma direção com um bom peso e feeling num volante de boas dimensões.
Parado num dos demasiados sinais vermelhos da nossa capital, começo a explorar ainda melhor o interior, e encontro o “Drive Select”, um comando rotativo que nos permite optar por cinco modos: Smart, ECO, Confort, Sport e Sport+. Os dois últimos guardo para outros caminhos, por aqui vou optar pelo Smart, o que me suscitou maior curiosidade, adaptando-se à nossa condução e às nossas necessidades.
Como é que ainda ninguém se tinha lembrado disto?!
Nesta coroa citadina, é de salientar a facilidade de condução, assim como a tranquilidade dada por esta transmissão. Em autoestrada, o Stinger rola muito bem, atingindo velocidades mais elevadas sem se dar conta, com consumos que impressionam (média final de 7,4l/100km) para um automóvel com 200cv e que é um pouco “gordinho”, com mais de 1700kg quando “pisa” a balança.
Felizmente, tenho a sorte de ter um caminho de estradas de montanha até casa, o local ideal para rodar o botão e colocar ativo o modo Sport. Dois toques na patilha da esquerda, “começamos a dança”. E aqui vem-nos à cabeça um nome: Albert Biermann, um senhor que foi “só” o responsável da divisão M da BMW, e que trabalhou na marca Bávara durante praticamente três décadas.
São notórios os seus ‘toques’, ainda para mais sendo este o primeiro tração traseira da KIA preocupado realmente com a condução. Neste modo, pensamos que vamos ser desafiados, mas o Stinger apenas se preocupa em ir de curva em curva, de forma rápida, não se fazendo notar tanto o seu peso, com um som incrementado devido a um sintetizador que nos dá uma melodia mais harmoniosa que a do diesel, embora essa praticamente nem se faça ouvir no seu interior durante o andamento. Bastante composto, só quando levado mais perto do limite é que se mostra “traseiro”, tornando tudo mais divertido, já que é fácil de controlar. Para derivas “à séria” existe o modo Sport+, mas convém lembrar que os 440Nm de binário não vão ser meigos com os pneus traseiros…
Ainda de realçar que a caixa de oito velocidades é rápida, e exibe poucas hesitações no que toca a reduções, algo que acreditamos ser ainda melhor na versão GT, com prestações de real desportivo, ainda que este diesel atinja os 100km/h depois de parado em 7,6s, até chegar a uns respeitáveis 236km/h de velocidade máxima.
Encontramos contras? Nós não lhes chamaríamos contras, porém, o sistema de infotenimento, que é bastante completo, podia ter um comando central ao invés de ser somente touch. O outro “contra”, é um pormenor que me fez, a mim, muita confusão, a de as ponteiras estarem apenas de um lado. Pronto, se comprar um KIA Stinger, estou mesmo destinado a ter de escolher o GT…
Opcionais? Não há, ou seja, há dois e estão presentes. Um é a pintura metalizada (490€), o outro é o teto de abrir (950€), de resto, tudo de série, superequipado, por um preço abaixo de 60 mil euros, ao que a concorrência à qual o Stinger aponta oferece um motor com menos potência, muito menos equipamento e uma garantia inferior, já que a KIA oferece os seus típicos 7 anos ou 100.000km.
A primeira incursão da KIA nos premium impressiona, e em palavras é difícil de explicar, bem como nas fotos é complicado de entender. O melhor é mesmo experimentar e ver o KIA Stinger ao vivo, mudar a convenção que tem dentro da sua cabeça e acreditar.
A marca tem dado provas no que toca a fiabilidade, fez um esforço no que toca ao desenho e à qualidade, de forma a colocar-se em linha com os europeus, e agora, finalmente, torna-se também bastante competitiva na vertente da dinâmica.
Depois da era “pós Cee’d”, começa a era “pós-Stinger”: Concorrência, ponham-se em sentido.
“Este não é para a tua carteira? Então clica para conheceres o crossover da KIA, o Stonic!“
KIA Stinger 2.2 CRDi 200 AT8 GT Line
Especificações:
Potência – 200cv às 3800rpm
Binário – 441Nm às 1750 ~2750rpm
Aceleração dos 0-100 (oficial): 7,6s
Velocidade Máxima (oficial): 236km/h
Consumo Combinado Anunciado (Medido) – 5,6l/100km (7,4l/100km)
Preços:
KIA Stinger desde: 54.600€*
Preço da versão ensaiada: 56.600€*
Preço da unidade ensaiada: 57.090€*
*preços incluem campanha de 5.500€
Carrega nas fotos e vê este KIA Stinger em todo o seu esplendor:
Fotos: Rodrigo Inocêncio
“A pontuação acima é totalmente da nossa opinião. Esta, tem a ver com o modelo e versão ensaiadas, tendo em conta o segmento onde a mesma se insere.”
Legenda da pontuação:
0-5: Mau;
6-10: Satisfaz Pouco;
11-15: Razoável;
16-17: Bom;
18-19: Muito Bom;
20: Excelente;