
“Silêncio ensurdecedor”
Se regressarmos ao início, à chegada do automóvel elétrico, o principal objetivo era o de reduzir para zero as emissões de escape, assim como baixar os custos operacionais para o cliente. Mas, tal como no início dos automóveis, em que objetivo era apenas de levar-nos do “ponto A para o Ponto B” em vez de utilizar o tradicional cavalo, os elétricos, tal os automóveis a combustão dessa altura, também querem ser apostas mais emocionais e não apenas soluções pragmáticas para muitos.
A jovem Cupra é conhecida pelas suas propostas mais desportivas e o Born, o seu primeiro 100% elétrico, foi também anunciado como tal, como uma solução mais aspiracional para quem conduzir importa. Mas agora elevaram a fasquia com o Born VZ, a versão mais “VeloZ” com 326cv e afinações específicas, de forma a oferecer emoções mais fortes a quem vai sentado no lugar do condutor.
Chegou a altura de nos divertirmos!
Distingui-los não é a tarefa mais fácil, mas existem pistas de que estamos perante o mais potente dos Cupra Born. As jantes de 20’’ Thunderstorm são exclusivas deste modelo, que contam com detalhes acobreados e, tal como as jantes, também a cor que reveste esta unidade, o Verde Dark Forest, é específica para esta versão mais “picante”. Atrás, os únicos detalhes são as letras Cupra em preto, bem como o badge VZ.
No interior o maior destaque vai para as bacquet Sabelt, que para além de oferecem um ambiente bem mais desportivo ao habitáculo, são perfeitas no que diz respeito ao apoio lateral, assim como são confortáveis para tiradas mais longas.
De resto, algumas superfícies do tablier contam com uma tonalidade diferente, num interior que foi recentemente renovado e passou a contar com um novo seletor de marcha, mais ergonómico, assim como a inclusão do novo sistema multimédia igual aos que já encontrávamos nos mais recentes modelos da marca. O Born pode também contar com o novo sistema de áudio assinado pela Sennheiser.
Atrás, o espaço permanece inalterado, com as Sabelt a não prejudicarem nesse campo, enquanto a bagageira continua a oferecer a mesma capacidade, com 385l.
Ao volante
Ao contrário da “receita básica”, a Cupra não seguiu o atalho de colocar um motor no eixo dianteiro para fazer a potência subir. Ao invés disso dotou o modelo com um motor mais potente no eixo traseiro, que debita 326cv (240kW) assim como um igualmente generoso valor no que diz respeito ao binário, 545Nm.
E não, a Cupra não seguiu também o caminho de querer bater recordes na aceleração. Com um valor de 5,6s, até algo “normal” para um desportivo de segmento C, por exemplo, o Formentor VZ de 333cv cumpre essa tarefa em menos tempo (4,8s).
O que a marca espanhola quis aqui fazer foi um Born mais acutilante em curva, mais “afinado” nos pormenores em que os automóveis elétricos ainda podem, digamos assim, falhar. Isto porque lutam com um peso que é sempre mais elevado. A missão foi cumprida?
Logo desde os primeiros metros notam-se diferenças, não só pelo bom suporte das bacquet, mas também num tato de travão que está mais “neutro”, não sendo tão “esponjoso” como é habitual neste tipo de automóveis. Depois disso, em estradas onde podemos explorar mais o que este Cupra consegue fazer, notamos igualmente o trabalho feito nas ligações ao solo.
As molas e as barras estabilizadoras são mais rígidas face ao modelo base, enquanto os pneus são mais “aderentes” para que o grip não falhe. E nisso, o trabalho foi igualmente bem feito, ajudado pela direção que foi revista e está mais precisa, de forma a “orquestrar” tudo da melhor maneira, notando-se uma frente que insere bem em curva.
E sim, mesmo que a tração seja traseira, e a entrega de potência seja muito mais imediata do que num automóvel térmico, não chega a ser demasiado agressiva para que torne o modelo instável, mesmo utilizando o modo de condução mais “caliente”. Isto trata-se de uma forte conquista, a de sentir o carro de forma correta, como queremos, de maneira a explorar de forma divertida, mas, acima de tudo, eficaz e confiante.
Se há algo com que os elétricos lutam, é com o peso. O Born VZ não é exceção, pesando duas toneladas. Para ajudar a colmatar esse handicap, a suspensão adaptativa faz com que não se sinta demasiada oscilação vertical, nem um exagero que torne o seu comportamento demasiado hiperativo. E embora o seu peso seja elevado, mesmo para um automóvel 100% elétrico, a verdade é que esse está na parte mais baixa da carroçaria e está, acima de tudo, bem distribuído, na proporção 48:52.
Claro que agora querem saber sobre a travagem. E os mais atentos notam, uma vez mais, que mesmo na versão desportiva, o Born VZ não conta com discos atrás. Sentimos falta deles?
Obviamente que não vai conseguir a mesma resistência à fadiga do que se contasse com discos às quatro rodas. Mas um dos segredos de conduzir um elétrico de forma mais “despachada” é utilizar as patilhas atrás do volante para ir preparando a curva seguinte, aumentando a regeneração e ir “tirando” a regeneração quando saímos da curva e chega a reta seguinte. Assim, conseguimos kWh extra para a bateria, ao mesmo tempo que não subcarregamos o sistema de travagem.
Os 326cv são notórios. Mais ainda porque a Cupra não colocou no Born VZ nenhum sistema de som artificial, nem externo, nem interno, como algumas marcas têm vindo a implementar. Na verdade, achamos que seria uma boa solução para o modo de condução mais desportivo, já que nos ajudaria a ter uma maior perceção da velocidade, que escala de forma bastante rápida, e assim garantir uma maior envolvência.
E agora, para terminar, todos queremos saber valores. Mas antes de passar para o de aquisição, o Born VZ para além de um comportamento mais interessante – e efetivamente divertido para quem vai ao volante – os consumos foram uma agradável surpresa. No final, o valor ficou abaixo dos 16kWh/100km. Ou seja, com a bateria de 79kWh carregada em pleno, seriamos capazes de fazer 500km sem problemas.
Agora, quanto a preços, o Born VZ é, como esperado, o mais caro da gama. No entanto, é “apenas” pouco mais de 2800€ mais caro do que o Born eBoost com 231cv e uma bateria 2kWh mais pequena, que para além da potência ainda oferece um equipamento (onde se incluem as Bacquet) mais generoso. Já a unidade em ensaio, pedia em troca 59.750€, um valor já difícil de atingir para muitos.
Mas, se quer ser emocional e quer um Cupra elétrico, onde a diversão ao volante é fator imperial, siga diretamente para o VZ, já que une a experiência de condução mais imersiva, com ajustes feitos nos locais e nas medidas certas, sem perder a razão graças aos seus consumos mais comedidos do que era esperado.