
“Como os grandes”
O Série 1 é o modelo de entrada para o “Mundo BMW”, assim como este M135 xDrive é a entrada para o “Mundo M”. Passámos uns dias ao volante do renovado modelo, que mudou o seu exterior, modernizou o interior e fez melhoramentos nas ligações ao solo, não esquecendo a parte técnica. Do passado, até o nome mudou, perdendo o “i”, de forma a não ser confundido com uma das várias propostas elétricas da marca.
Com 300cv e tração integral, este originário da Baviera é um rival direto dos hot-hatch de Estugarda e Ingolstadt.
No seu exterior, notamos desde logo as mudanças feitas pela BMW na renovação do modelo, que passa a contar com uma secção dianteira praticamente nova, com a grelha típica da marca alemã a estar agora interligada, enquanto os faróis contam com um novo desenho, que me fizeram lembrar dos utilizados no Z4. Já na secção traseira, as diferenças são mais ténues, com o maior destaque a incidir nos farolins traseiros, que mantêm o seu formato, mas que recebem um novo interior.
Mas esta versão desportiva conta, como é esperado, com um estilo bem mais radical. É por isso notório que estamos perante a versão mais desportiva do Serie 1. A altura ao solo reduz-se em 8mm, os para-choques são específicos com uma maior capacidade de deixar o ar entrar, os espelhos retrovisores têm uma preocupação com a aerodinâmica, enquanto as jantes específicas, o spoiler traseiro generoso e as duas saídas de escape duplas querem tirar quaisquer dúvidas que estamos perante um M e não “apenas” de um Série 1 com o tratamento estético da divisão desportiva.
O interior foi também alvo de uma grande renovação. Aliás, este Série 1 foi alvo de tantas renovações, que mudou mesmo o seu nome de código para F70. Mais uma vez, antes de falar das suas diferenças cá dentro, temos que destacar a sensação de qualidade, seja da montagem ou de muitos dos materiais empregues, colocando-o num nível elevado, considerando que este é o modelo de acesso à marca, uma das principais vantagens face à concorrência.
A sua renovação foi bastante focada na tecnologia, com um “makeover” que tem com principal protagonista o Curved Display, que é também a razão pelo desaparecimento de muitos dos botões que estavam presentes neste habitáculo. No entanto, ponto positivo para o funcionamento do software, assim como dos atalhos, sobretudo os da climatização que estão sempre presentes e bem “à mão”.
Existe no seu interior uma mistura entre a desportividade, dada pelos bancos e pelos pespontos com as cores BMW Motorsport (opcionais do Pack Desportivo M Pro), assim como pela sensação de modernidade, graças ao Curved Display, mas também devido à iluminação ambiente, que surge de fissuras ao longo do tablier. Um toque de bom gosto, mas que durante a noite acaba por refletir demasiado nos vidros laterais, o que por sua vez impacta a visibilidade para os espelhos retrovisores.
Aliás, neste interior, apenas isso e as patilhas do volante merecem reparo.
Ou seja, contam com uma boa dimensão, mas o seu toque destoa um pouco da qualidade do resto do interior, não se sentindo tão premium como deveria.
Atrás, existe espaço para sentar de forma confortável dois adultos, enquanto acontece algo muito curioso com a bagageira, já que esta versão desportiva, mesmo com tração integral, conta com mais capacidade (+80l) do que algumas das versões mais “racionais”, como o 120 ou 120d, totalizando 380l de capacidade. Pode ainda contar, como na unidade em teste, com abertura elétrica.
Ao volante
Olhando para a sua ficha técnica, comparando com o anterior M135i xDrive, esta versão renovada está 25kg mais pesada, 6cv menos potente e conta com binário 50Nm inferior (400Nm) disponível numa faixa de utilização máxima mais curta. As razões foram imperativas, de forma a cumprir as apertadas normas europeias.
Mas é motivo para ficar já desinteressado?
Nada disso. Afinal, estamos num automóvel com tração “às quatro” e 300cv de potência, atributos que devem ser capazes de aumentar os nossos batimentos cardíacos.
Para ajudar a isso (e compensar algumas perdas no que diz respeito aos números), a BMW trabalhou na geometria, aumentando o “caster”, fez mais alguns ajustes na suspensão, assim como alterou os suportes da barra estabilizadora, somando a isso uma estrutura geral que está agora mais rígida.
Passando para a ação, conseguimos desde logo constatar que é fácil conviver no dia-a-dia com este BMW M135 xDrive, podendo ser mesmo uma opção para quem quer um segmento C com algum “picante”, mas que não descura a sua utilidade, nem quer ter o desconforto de um desportivo mais “puro e duro”. Como bónus, não é difícil manter os consumos reduzidos (tendo em conta o “espécime” em questão) sendo fácil conseguir valores em torno dos 7l/100km, principalmente numa condução em autoestrada. O conforto é também garantido, bastante tolerável se utilizarmos os modos Personal ou Efficiency.
A transmissão também é diferente. Se no M135i xDrive era utilizada uma automática com conversor de binário e oito velocidades, agora entra em cena uma DCT (dupla embraiagem) com sete relações, podendo ser, como anteriormente, controlada através das patilhas montadas atrás do volante. É maioritariamente suave nas transições.
Alterando para o modo Sport, somos invadidos por um som sintetizado (ao qual a BMW chama de Iconic Sounds) que pretende fazer com que o condutor e passageiros sintam uma maior imersão e desportividade. Na verdade, isso até pode funcionar, mas para quem prefere um som de motor puro pode dececionar. No entanto, e muito bem, existe a possibilidade de desligar e apenas contar com a afinação mais desportiva, sem o som artificial.
Em estradas de montanha e com elevadas doses de curvas, é onde exploramos melhor as capacidades de um hot-hatch como este. As condições climatéricas não estavam convidativas, mas, por outro lado, demonstraram desde logo uma das capacidades deste modelo: a facilidade em adotar um ritmo mais elevado, em segurança.
A tração integral xDrive é a maior responsável por isso, garantindo uma boa dose de “grip”, sem ter uma característica sub ou sobreviradora, sendo bastante neutro e fácil de ler, ainda que demore algum tempo. Ou seja, não é o mais sensorial dos seus concorrentes, mas depois de nos habituarmos confere uma boa confiança, principalmente em saída de curva, não havendo problemas de tração, mesmo com chuva forte. A direção é direta e precisa, ajudando a ajustes milimétricos. A transmissão demonstra ser rápida, no entanto, por vezes, hesita um pouco na altura das reduções.
Mesmo com vários modos, não existe uma capacidade de ajustar a dureza do amortecimento. Assim, o melhor, caso a condição do piso não seja perfeitamente ideal, já que se torna demasiado “hiperativo” nas reações, algo que as jantes de 19’’ polegadas também não ajudam, é utilizar o modo Personal e colocar a “caixa” no modo desportivo (ou com controlo manual) e aproveitar. Usufruir porque o motor tem força suficiente para animar, conseguindo divertir quem vai volante. Na verdade, os números aqui também não enganam: são 4,9s para cumprir os 0-100km/h, apenas mais 0,1s que o pré-restyling.
Nota positiva para o sistema de travagem, tanto para a sua resistência, como para o tato do pedal do travão, permitindo uma boa modulação e uso do pé esquerdo para essa função.
Na prática e resumindo tudo, o BMW M135 xDrive é uma proposta diferente para os puristas da marca. Para quem procura um sucessor para o anterior 135i da geração anterior, que utilizava um propulsor seis cilindros em linha e tração traseira, esta proposta não poderia ser mais diferente e talvez não seja do agrado. Para esses, o melhor é seguir em direção ao M240i, a proposta um patamar acima.
Esta é sim uma proposta para quem quer ter um gosto do que é um M da BMW, mas que não pretende “perder” a capacidade de utilização de um pequeno familiar. O seu preço, embora não seja para todas as carteiras, é ajustado ao que este modelo oferece, com a unidade em ensaio, já com 11.000€ em opcionais, a pedir em troca 72.423€, abaixo dos seus concorrentes germânicos premium desportivos.