
“Value for Power”
O MG4 é o modelo de maior sucesso neste “renascimento” da histórica marca que comemora este ano o seu centésimo aniversário. Dentro da gama, o MG4 XPower é o mais potente graças aos seus 435cv e tração integral.
Mas será que este é um verdadeiro desportivo ou “apenas” um elétrico com uma potência (bastante) generosa? Foi isso que planeámos descobrir.
Esteticamente o MG4 XPower conta com algumas diferenças estéticas. Para começar e a mais evidente, é a cor exclusiva Hunter Green com um acabamento mate. Para além disso, as jantes de 18’’ polegadas são exclusivas, assim como os detalhes dos para-choques e secções inferiores. Ainda no exterior, existe um outro detalhe por detrás das jantes, com uma cobertura das maxilas de travão, em laranja. Um pormenor que pode não agradar a todos…
Já o interior conta com menos diferenças, com as únicas a serem encontradas nos bancos, com a parte central em alcantara e pespontos em vermelho. De resto, é em tudo igual a um outro MG4 mais equipado, com um habitáculo simples e minimalista, com o destaque a ir para o seletor de marcha numa posição superior, com um comando rotativo.
Em termos de ergonomia, os comandos da climatização estão “escondidos” no ecrã central tátil. O painel de instrumentos conta com boa informação, mas, tal como no sistema multimédia, conta com um tamanho de letra muito pequeno o que dificulta a sua leitura.
A posição de condução é elevada, como é habitual em muitas propostas 100% elétricas, sendo possível de regular eletricamente. O volante tem poucas pretensões desportivas, assim como o suporte dos bancos que poderia ser melhor.
Atrás, o espaço é ideal para dois e suficiente para três (devido a ser mais estreito), com um piso quase plano. Não conta com apoio de braços central, nem saída de ventilação dedicada, no entanto apresenta uma tomada USB-C. A bagageira conta com 363l de capacidade, o que está abaixo de muitos dos seus concorrentes diretos.
Ao volante
A receita deste MG4 Xpower é composta por dois motores, um em cada eixo. Na dianteira está um com 204cv (150kW), com o mais potente a estar no eixo traseiro, com 231cv (170kW). Totaliza 435cv (320kW), com um binário máximo de 600Nm. Números que impressionam verdadeiramente, num automóvel que se pode dizer compacto (4,28m) e que pesa menos de 1800kg (o que para um 100% elétrico não é mau). Graças a isso, é capaz de cumprir os 0-100km/h em 3,8s e uma velocidade máxima de 200km/h.
Para acompanhar este aumento de prestações, o MG4 XPower conta com alterações nas suas ligações ao solo. Para além dos “preciosos” Michelin Pilot Sport 5, a MG conferiu ainda ao modelo molas mais rígidas à frente e atrás, assim como amortecedores e barras estabilizadoras com um maior diâmetro. Os discos de travão contam com uma dimensão de 345mm seja à frente ou atrás.
Passando para a condução e começando em cidade, o MG4 XPower comporta-se de forma “ordeira”, ou seja, no modo ECO (um dos 5 disponíveis) consegue oferecer a potência de forma comedida e uma agilidade em linha com o que podemos querer numa condução citadina. Aqui, é igualmente o melhor local para testar o “one-pedal”, que ajuda a reduzir os consumos, que nestes percursos ficou em torno dos 15,8kWh/100km.
Aqui, convém falar da capacidade da bateria. O MG4 XPower conta com uma 64kWh de capacidade bruta (61,8kWh útil), conseguindo uma potência máxima de carregamento de 140kW em corrente continua. Segundo a marca, a autonomia mista é de 385km. Em cidade, com os consumos que conseguimos, seria possível alcançar os 390km. Em circuito misto, é possível esperar valores entre os 17,9 e os 19,3kWh/100km.
Mas obviamente o caso muda (bastante) de figura quando selecionamos outros modos mais extremos e vamos em busca do XPower dentro deste MG4.
Saltando para o modo mais desportivo, é de imediato notório que a direção fica menos assistida, algo que nos modos “base” é algo “desligada”, com a sensibilidade do pedal do acelerador a aumentar. É neste modo que podemos testar os “menos de quatro segundos” dos 0 aos 100km/h. Não contámos ao cronómetro, mas não duvidamos que o tenha cumprido. Com uma boa capacidade de tracionar, encosta-nos ao banco e faz os números escalarem bem rápido no painel de instrumentos, algo que o faria (se pudéssemos) até aos 200km/h.
Ou seja, primeira tarefa concluída: “é rápido em reta. Mas, e em curva?”
As curvas são sempre o mais complicado de fazer depressa e bem num automóvel. No caso do MG4 XPower elas fazem-se de uma ou de outra maneira, ao mesmo tempo é que já é complicado.
No entanto, a MG dotou este seu MG4 mais potente com vectorização de binário, elemento que entra na equação e que ajuda, de certa forma, a tornar tudo mais fluído e eficaz. Maioritariamente o seu comportamento é neutro, só que quando não é, nota-se muito o corte de potência entregue às rodas. Feito o teste com o ESC desligado, a entrada do controlo é ainda mais evidente, pelo que não é solução para este problema.
No entanto, quando não é conduzido no “fio da navalha” (nem perto disso), o MG4 XPower consegue ser despachado. No entanto é necessário sempre agir com suavidade, porque se entrarmos em curva rápido demais, aparece a subviragem, ainda que os Michelin ajudem (e muito) a garantir um bom nível de aderência. A traseira não solta com muita facilidade, ainda que isso seja possível, contudo não de uma forma divertida, já que o regresso “à normalidade” é algo brusco.
Basicamente, o MG4 XPower é um automóvel rápido, mas não é a melhor solução para atacar uma estrada muito encadeada de curvas, demonstrando, devido aos seus movimentos mais bruscos. Isso acontece devido a uma suspensão que, embora nos tenha agradado em cidade e autoestrada, parece algo macia para o seu peso e potência e respetivas pretensões.
No entanto, nota positiva para a travagem, que se mostrou capaz e com um bom tato, resistindo bem aos esforços pedidos.
Como conclusão, o MG4 XPower defende-se em muito pelo seu preço, que por pouco mais de 39 mil euros é um grande exemplo de “Value for Power”, não havendo mais nenhuma proposta mais acessível que nos permita ir dos 0 aos 100km/h tão rápido, pelo menos com quatro rodas…
Como produto, o MG4 tem as suas vantagens. É suficientemente espaçoso, está corretamente equipado e é ágil na cidade. Já o XPower está ali numa “zona cinzenta”, que nos oferece potência e prestações, ao custo de consumos mais elevados (fácil conseguir acima de 24kWh/100km), não oferecendo em troca a diversão que poderíamos inicialmente esperar.
O melhor é mesmo optar pelo MG4 Extended Range e aproveitar a sua frugalidade.